O Evangelho, simples assim!
“Pois virá o tempo em que não
suportarão a sã doutrina; pelo contrário, sentindo coceira nos ouvidos, segundo
os seus próprios desejos juntarão mestres para si mesmos” (2 Tm 4.3).
O evangelicalismo brasileiro por falta de densidade
bíblica e teológica é um terreno fértil para muitas excentricidades religiosas.
Pesquisas sérias nos dão conta de que a cada cinco anos uma “nova doutrina”
aparece no Brasil. De demônios territoriais, maldições hereditárias a suor
sagrado, aparece de tudo. Sem falar nos exageros quanto ao que se convencionou
a chamar de “Nova Era” que demonizou a Coca-Cola, os desenhos de Wat Disney e o
código de barras, por exemplo. Durante muito tempo os níveis de espiritualidade
eram medidos pelo comprimento do cabelo e o tamanho da saia, bem como o uso de
ternos, tipos de canções, uso ou proibição de determinados instrumentos no
culto e etc. Em nossos dias enfrentamos também dificuldades. Em
nome de uma “Igreja Contemporânea” muita coisa estranha tem aportado em nossas
igrejas. Aliás, tudo começa com o termo igreja que da noite para o dia
passou a ser ofensivo. De uma hora para outra a palavra igreja
revestiu-se quase que de uma maldição, uma palavra inominável, abjeta.
O termo da moda é comunidade. Comunidade parece ser inofensiva, tem um senso de
coletividade, igualdade, informalidade. Também a palavra ‘culto’ deve ser
evitada, o que agrada é a expressão ‘celebração’. Esta sim diz mais, celebrar
envolve a pessoa, seus afetos, seus anseios, sua vida. Culto não. Culto
tem a ver com religião, com igreja... ‘Pecado’ é outra palavrinha envenenada,
não soa bem aos ouvidos pós-modernos. Pecado tem a ver com uma possível maldade
em nossos corações. Pecado lembra-nos de nossas misérias e de nossa vileza. O
politicamente correto é dizer ‘erro’. Erro tem mais a ver com inaptidão e erros
de cálculos e estratégias do que com a nossa natureza. Significa que o nosso
procedimento não justifica a nossa intenção. É quase que ‘sem querer
querendo’. É por isso que a pregação foi substituída pela ‘preleção’,
conferência, troca de ideias, conversa informal, interatividade. Não podemos
oferecer nenhuma reflexão mais substancial e profunda. Não podemos provocar nenhuma introspecção que leve a pessoa a
considerar verdadeiramente a sua escala de valores. Mesmo porque, não há verdade a ser comunicada ou
defendida. Tudo o que há é o ponto de vista.Então, se não há muito a ser
aprendido e apreendido, o que sobra é o que há para ser sentido. A emoção
aparta-se da razão e o que importa é fazer com que as pessoas sintam algo, tenham
vontade e o desejo de continuar vindo e experimentar sempre mais. Para cativar
os frequentadores o líder (também e por motivos justos às vezes, as palavras
pastor, bispo e congêneres não pegam bem), criam campanhas em mais campanhas
para manter seus liderados empenhados e sempre com novos desafios e novas
metas. Sem falar que toda a espiritualidade tem que necessariamente ser
abastecida por temas da atualidade. A Bíblia, na verdade, torna-se um
‘texto-prova’ para sustentar as nossas opiniões. Por exemplo, falamos de drogas
para nossos adolescentes, de seus perigos, de como evita-las e etc. usamos as
Escrituras para apoiar o nosso corretíssimo julgamento sobre o tema. Contudo, o
cristianismo não é uma questão de método ou interpretação. O Evangelho tem menos
a ver com a sua apresentação e mais a ver com o seu conteúdo. Intentar
um cristianismo inofensivo é o mesmo que oferecer placebo para um paciente em
tratamento de câncer terminal. Ele poderá até obter alguns benefícios
psicológicos e vir a ter uma real qualidade de vida melhor que antes do
placebo. Todavia, o mal continuará a sugar a sua vida com a mesma letalidade.
Precisamos voltar ao Evangelho puro e simples. Precisamos falar abertamente da
velha história do jeitinho que ela aconteceu. Aceito o fato de que algumas
expressões bíblicas e alguns conceitos teológicos carecem de alguma elucidação
e de algumas boas ilustrações para serem compreendidas pelo homem
contemporâneo. Mas, precisamos ter a coragem de anunciar a depravação e a
malignidade dos corações. Que pecado tem a ver com nossa natureza decaída. Que
o nosso coração até que sejamos salvos é estruturalmente pecador. Precisamos
dizer aos homens e mulheres de nossos dias que não há melhor lugar para se
estar do que na Igreja. Não no templo. Na Igreja, corpo de Cristo que é sua
cabeça. Que a Igreja não é uma comunidade de pessoas simplesmente, mas um
mistério, um organismo vivo cuja alma vivente é o Espírito do Ressuscitado. Ao
invés de campanhas precisamos de estudos diligentes das Escrituras, precisamos
nos certificar todos os dias das doutrinas da salvação. No lugar de temas
relevantes o que precisamos é apresentar a Bíblia como aquilo que valida o que
é relevante na vida. E por último, a adoração, o culto. Não cansemos de ensinar
que o Culto é para Deus, ainda que nossas aspirações sejam levadas em conta e
ainda que os beneficiários sejamos nós, Deus permanece o alvo único de nossa
adoração. Apesar de toda sofisticação ao redor, o Evangelho é eficaz porque é
simples assim!
Rev. Luiz Fernando - Pastor da IPCI
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