O mérito de nada merecer
“Que darei ao Senhor
por todos os seus benefícios para comigo?” (Sl 116.12,13).
A vida cristã supõe a crença em paradoxos. Não
obstante a clareza das Escrituras, sua simplicidade e a naturalidade com que
ela nos comunica os conhecimentos essenciais sobre Deus, a criação, o homem, o
pecado, a redenção e etc., a fé cristã repousa tranquila e
confortavelmente sobre paradoxos inexplicáveis, verdades que escapam por
completo à lógica humana, verdades que só se harmonizam na mente santa e
sapientíssima de Deus. E por que só se harmonizam lá? Pelo fato de que
Deus não só é infinitamente mais sábio e inteligente que os homens. E sim
porque sua sabedoria e sua inteligência são de outra natureza: divina, santa,
indefectível, essencial, transcendental, puríssima, inerente ao seu ser, não
adquirida, mas produzida nele mesmo. Deus não conhece a partir da experiência.
Assim, quando vamos às Escrituras somos apresentados a um Deus que salva
graciosamente, mas que espera uma resposta do homem. Vemos um Deus que oferta o
Evangelho, que não o impõe, mas que determina que todos creiam. Que convida o
pecador à conversão, sem forçar-lhe à vontade, mas que exige arrependimento.
Que quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade,
conquanto salve apenas os que quer e quantos quer. Por isso mesmo o grande mérito
do cristão é não possuir mérito algum. Será salvo por uma eleição
graciosa sem base em justiça pessoal, sem que haja crédito junto a Deus.
Entretanto se a entrada no Reino não é uma meritocracia lá existem níveis de
felicidade, são os galardões distribuídos por Deus àqueles que em Cristo,
durante o curso desta vida,
uma vez salvos, progrediram na vida cristã não sem esforço, sem sacrifícios. Nossos
méritos pessoais não são suficientes para colocar-nos no Reino, entretanto, não
são desprezados por Deus uma vez que fomos alcançados pelo Evangelho.
Deus escolheu-nos para as boas obras: “Porque
somos criação de Deus realizada em Cristo Jesus para fazermos boas obras,
as quais antes para nós as praticarmos”( Ef 2.10). Ele deseja que nos empenhemos na prática destas boas obras:
“Fiel é esta palavra, e quero que você
afirme categoricamente essas coisas, para que os que creem em Deus se
empenhem na prática de boas obras. Tais coisas são excelentes e úteis aos
homens” (Tt 3.8), e que por elas supramos as deficiências dos outros: “Quanto aos nossos, que aprendam a dedicar-se
à prática de boas obras, a fim de que supram as necessidades diárias e não
sejam improdutivos” (Tt 3.14). Se nossas boas obras não nos creditam para a
vida eterna, contudo elas não são neutras. Elas levam outros a reconhecerem a
glória de Deus Pai: “Assim brilhe a luz
de vocês diante dos homens, para que vejam as suas boas obras e glorifiquem
ao Pai de vocês, que está nos céus” (Mt 5. 16). Dão a evidência de que
fomos de fato, escolhidos por Deus: “Vocês
não me escolheram, mas eu os escolhi para irem e darem fruto, fruto que
permaneça, a fim de que o Pai lhes conceda o que pedirem em meu nome” (Jo
15.16) e evidenciam a genuinidade de nossa fé: “Assim também a fé, por si só, se não for acompanhada de obras, está
morta. Mas alguém dirá: ‘Você tem fé; eu tenho obras’. Mostre-me a sua fé sem
obras, e eu lhe mostrarei a minha fé pelas obras” (Tg 2.17,18). Desde
logo percebemos que a nossa obrigação em andar em boas obras não é uma condição
para sermos salvos, antes, a sua evidência. As boas obras são o resultado da
salvação e não sua exigência. Contudo as boas obras constituem um meio
de graça eficiente e à disposição do cristão para crescer em santificação,
amor, fraternidade, humanidade. As boas obras são parte de nossa adoração,
é como glorificamos a Deus em nossa vida concreta, em nossos relacionamentos.
Por isso quando praticarmos o bem repitamos com o Evangelho: “Assim também vocês, quando tiverem feito
tudo o que lhes for ordenado, devem dizer: ‘Somos servos inúteis’; apenas
cumprimos o nosso dever” (Lc
17.10) e ainda: “quem se gloriar, glorie-se no Senhor, pois não é aprovado quem a si
mesmo se recomenda, mas aquele a quem o Senhor recomenda” (2 Co 10.17). No
mês dedicado ao aniversário do Instituto Samaritano de Proteção Social seria
bom que individualmente e como igreja nos interrogássemos: como tem sido a
nossa efetiva produção de boas obras? Você precisa mais do Samaritano do que
ele precisa de você. Mas, sua fruição em boas obras lá nos
abençoaria a todos. Pense nisso, ore por isso.
Reverendo Luiz Fernando
Pastor da IPCI
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