Cristofobia
“A Verdade
vos libertará” (Jo 8.32).
Desde sempre a igreja aprende e ensina algumas
verdades sobre Deus: que Ele é gracioso, amoroso, bondoso, gentil,
misericordioso e longânimo. Sobre Jesus Cristo, o Filho de Deus, a igreja
anuncia que Ele é “manso e humilde de coração”, que acolhe os pecadores, que é
cheio de compaixão e perdoador. Quanto ao Espírito Santo que procede de ambos,
os cristãos testemunham que Ele é sensível, que produz fruto de paz, bondade,
alegria, amor, autodomínio e etc. em quem o recebe. Que é consolador, fidedigno
instrutor, indefectível conselheiro. Esta é a mensagem central do Evangelho,
das boas notícias. Estas verdades vêm acompanhadas do anúncio da necessidade de
arrependimento, salvação pela fé somente em Cristo e das penas eternas. Contudo,
em nossa cultura escravizada pela ditadura do relativismo, nossa mensagem e
nossa convicção soam como pretenciosas e descabidas aos ouvidos de muitos.
Vivemos dias de verdade liquida, isto é, ela acomoda-se confortavelmente em
qualquer recipiente. Ela será o que cada um bem desejar que ela seja. Ou seja,
o que é verdade para uns pode não ser para outros. Não há absolutos morais. Não
há verdade absoluta. Absoluto, só o relativo. É neste contexto movediço
que somos chamados a fincar a bandeira do Evangelho. O conteúdo do que cremos
deve manter-se inegociável. Talvez devêssemos mexer com temor e criatividade
nas expressões, nos métodos e inclusive no ardor, nunca, porém, no conteúdo.
Nossa mensagem não está presa à moda ou a cultura. A mensagem do Antigo Livro é
atualíssima. O discurso de que a Bíblia não tem leis, recomendações e ensinos
para o homem contemporâneo só porque ela tem milênios de história é uma
falácia. Os grandes cientistas, por exemplo, já perceberam a lógica
físio-química do relato da Criação. Ali estão registradas todas as leis
indispensáveis e em ordem para que haja vida. As preocupações ecológicas são encontradas nas
Escrituras. Os arquétipos psicológicos
e psicanalíticos estão representados, tipificados, e inclusive tradados nas
riquíssimas e complexas personagens das Escrituras. Todas as vicissitudes
humanas estão ali contempladas: casamentos felizes e destruídos, filhos que
“deram certo na vida”, outros nem tanto, adultérios, homicídios, fracassos,
recomeços, amizades, guerras, corrupção política e religiosa e etc. A Bíblia é
honesta e transparente, não esconde e nem procura relativizar ou justificar as
falhas de caráter e os pecados de seus heróis: o hesitante Abraão, o velhaco
Jacó, o desobediente Jonas, o adúltero Davi, o estupro de Diná, a traição de um
apóstolo, a negação de outro, o irascível Paulo e etc. Também a Bíblia não tem
medo de listar comportamentos reprovados por Deus: mentira, idolatria, falta de
amor, incesto, homossexualidade, fornicação, hipocrisia religiosa, fofoca,
maledicência, julgamento temerário, desprezo, avareza e tantos outros. No
meio do caos de nossa cultura filo-transgressiva, cristofóbica e que não
suporta e nem aceira que haja distinção entre certo e errado, direita e
esquerda, claro e escuro, macho e fêmea, justiça e iniquidade, santidade e
pecado, somos chamados a dar o nosso testemunho de maneira corajosa, amorosa,
humilde e serviçal. Não cabe a nós o julgamento de quem quer que seja. Não cabe
a nós rotularmos ninguém. Nunca excluímos, não promovemos o linchamento moral
público (ou privado) de quaisquer pessoas. Antes, pelo contrário, o
Evangelho é uma proposta, é uma oferta livre, gratuita, mas com claríssimas e
inequívocas distinções. Não há ajustes, acordos e acomodações. Mas, não deve
haver imposições, violência da liberdade e da consciência. Também discordamos
de muitas coisas em nossa cultura. Discordamos do PL 122, por exemplo, tanto
quanto discordamos da corrupção política. Todavia, para cair num lugar comum,
discordamos mas, defendemos até a morte o seu direito de agir e pensar
diferentemente de nós cristãos. Só não aceitamos a mordaça que querem impor aos
que pregam o Evangelho ou o constrangimento de consciência que querem impingir
sobre os discípulos de Cristo tentando criminalizar a nossa mensagem. Concordo, porém, e reafirmo, que peca e
presta um desserviço ao verdadeiro Evangelho quem tem uma mensagem com base na
acusação, na jocosidade, na falta de respeito e dignidade, na negação do amor,
na exposição gratuita das pessoas que conosco convivem e conosco constroem a
cidadania. De nossa parte convidemos a todos
para que experimentem o poder do Evangelho.
Rev. Luiz Fernando - Pastor da IPCI
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