Igreja Mundana
“Pois Deus enviou o seu Filho ao mundo, não
para condenar o mundo, mas para que este fosse salvo por meio dele.” (Jo 3.
17).
Confesso que eu sonho com o dia em que a Igreja
Evangélica Brasileira será uma igreja mundana. Não vejo o memento
em que esse dia chegue. Evidentemente que não estou ansioso por ver uma Igreja
secularizada e mundana no sentido de ser uma comunidade dessacralizada, imoral
e apóstata. Não estou falando sobre a presença do mundo, como sistema de
valores e de vida antagônicos ao projeto do Reino de Deus na Igreja. Mas falo
de uma Igreja presente, atuante e transformadora do mundo e suas complexas
realidades. A tradição protestante tem três maneiras básicas de entender a
missão e a presença da igreja na história. A primeira delas, claro, é a
Luterana. Para as igrejas oriundas da Reforma de Martinho Lutero, os reinos da
graça e da espada, isto é, os domínios da Igreja e do Estado são radicalmente
separados. Caminham juntos, lado a lado, mas estão separados como duas
paralelas rumo ao infinito. Caminham para a mesma direção, estão debaixo do
mesmo senhorio, o de Cristo, mas jamais se tocam. É a tão propalada e
confundida separação entre Igreja e Estado. Neste contexto a Igreja não abre
mão de sua missão profética de denunciar a injustiça e a iniquidade, mas, pouco
faz para inserir-se no processo de transformação da realidade. A outra tradição
protestante é a anabatista. Este grupo via não só a separação, mas, sobretudo o
isolamento da Igreja em questões de política, economia, cultura e etc. Formaram
verdadeiros guetos cristãos completamente alheios aos dramas e às demandas do
mundo. Não só a alienação, mas também houve dentro dos anabatistas movimentos
de resistência e não cooperação ou conformismo com o status quo, e como projeto
alternativo ao mundo, apresentavam a própria comunidade de fé como o arquétipo
de justiça e equidade. A terceira tradição é a Reformada ou Calvinista. Nesta
concepção bíblica da fé cristã, a Graça devemisturar-se
à Natureza para transformá-la a partir de dentro. Não uma Graça ao lado da Natureza para cooperar com ela, como no caso dos
luteranos, nem uma Graça sobre a
Natureza como os anabatistas, indiferentes
aos rumos da vida, mas uma Graça interpenetrada à Natureza para
elevá-la, purifica-la, socorrê-la, e dar novo dinamismo. Nesta concepção a
Igreja não assume as funções próprias do Estado e nem se deixa dominar por ele, todavia, a comunidade de fé não se vê
alheia das vicissitudes da vida social, política e econômica. Sua missão não se
reduz á transmissão da fé e ao discurso religioso. Antes, à luz das Escrituras,
treina os seus filhos para assumirem sua responsabilidade social no mundo.
Não espera que o Estado faça todas as coisas pura e simplesmente. Não espera
que surja uma consciência social naturalmente entre os homens de boa vontade
constrangidos pela graça comum. Neste
contexto a Igreja é pró- Ativa. Incita seus filhos a se inserirem com o
testemunho e o fermento do evangelho nas estruturas e fóruns do mundo onde as
coisas acontecem, a fim de exercerem com plenitude sua condição de embaixadores
do Reino, mordomos da criação e despenseiros da graça. Ali, se misturam aos
outros homens para iluminá-los pelo testemunho do Evangelho vivendo uma ética
de solidariedade, uma moral de princípios e atitudes que visem a edificação e a
construção de uma sociedade mais justa, mais humanizada e mais solidária. Neste
sentido uma igreja mundana é uma igreja misturada no mundo onde estão os
grandes interesses de Deus, pois é lá que se acham não só os “perdidos” que
precisam ouvir a mensagem do Evangelho, mas também é onde o inimigo atua com
eficiência engendrando o veneno da corrupção política, o clientelismo, as
políticas públicas que atentam contra a sacralidade da vida e a santidade da
família, a manutenção da pobreza endêmica que só faz a manutenção perversa de
currais eleitorais e a criação e a divulgação da arte e da cultura que
disseminam a degradação humana e a desintegração da verdade, do bom e do belo. A vocação da Igreja é celeste, é escatológica é a glória. Sua missão,
porém, é o mundo concreto dos homens
e mulheres, em meio aos seus dramas e conquistas exercendo o ministério da
reconciliação entre as luzes e as sombras, as dores e esperanças do século XXI.
Rev. Luiz Fernando - Pastor Mestre da IPCI
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