O Martírio Moral
“Vós ainda não resististes até o sangue em
vosso combate contra o pecado!” (Hb 12. 4 BJ).
Sábado passado uma adolescente aqui de nossa Igreja
estava distribuindo folhetos evangelísticos na “praça da Matriz”. Muitos
aceitavam com simpatia e de bom grado os folhetos, sempre entregues de modo
gracioso e nunca de maneira ostensiva. E mesmo os que se recusam a aceitar, em
sua maioria, o fazem com muita elegância e nunca com grosserias. Mas, de
repente, nossa adolescente ao abordar um dos transeuntes, foi surpreendida com
um ataque visceral à Igreja Cristã de maneira geral e ao protestantismo e
presbiterianismo de maneiras particulares. Foram minutos de um constrangimento
que só não foi maior porque nossa irmãzinha não tinha a noção de muitas
afirmações históricas ali distorcidas. O ápice da acusação, que eu presenciei,
foi a participação de Calvino na execução do médico Miguel Serveto. Daí, a
conclusão do homem e o seu conselho para a nossa irmãzinha, não ser possível
seguir uma religião com líderes do naipe de um “assassino” como Calvino. Para
começar a história, não foi Calvino, mas a Inquisição Espanhola quem acusou,
julgou e sentenciou Serveto condenando-o à morte. Este fugiu para a Genebra
onde Calvino era pastor. A participação de Calvino no episódio é relativa e
serviu mais para garantir que a justiça fosse feita, e neste caso, para
testemunhar que tais atos tipificavam, àquela altura da história, crimes
compatíveis com tal sentença. Aqui termina toda a participação que Calvino
teria ou qual fosse a sua influência no episódio. Talvez Calvino pudesse se
preservar e abster-se de comparecer para evitar esta mancha em sua biografia,
mas grandes homens não fogem das grandes questões! Doutro lado, conquanto
aceitemos as contribuições teológicas de Calvino, decididamente nós não o
seguimos. Não o temos como nosso cabeça e chefe, pelos mesmos motivos que não
reconhecemos tal autoridade no Papa ou em qualquer outro, ainda que seja um eminente
Pai da Igreja. Temos por cabeça e chefe o Senhor Jesus Cristo “autor e consumador de nossa fé” (Hb
12. 2) e só a Ele seguimos como alguém sem pecados, mancha, erro,
mentira ou defeitos. Este episódio da praça vivido por nossa adolescente me faz
pensar em algumas coisas importantes para todo o andamento pastoral da Igreja e
para a vivência frutuosa dos cristãos presbiterianos na cidade de Itapira. 1º) Verdadeiramente precisamos estar
preparados para dar as razões da nossa esperança, 1 Pe 3.15. E para isto precisamos
observar o seguinte: Cultivar uma vida devocional profunda e disciplinada, com
leitura Bíblica e oração fervorosa; Preocupar-nos com o bom proceder para com
os de fora: Cl 4.5 e finalmente, participar com assiduidade dos momentos
de treinamento e formação como a Escola Bíblica Dominical e as outras
iniciativas oferecidas ao longo do ano eclesiástico. 2º) Ter sempre a consciência de que somos enviados como ovelhas
entre lobos: Mt 10.16 e por isso mesmo precisamos ser “prudentes como serpentes e simples como as pombas”. Isto significa
que não há proveito algum para o Reino de Deus a troca de acusações entre
Igrejas e Religiões e nem mesmo a polêmica é algo que deva ser alimentada pelos
que anunciam o Evangelho: “é orgulhoso e
nada entende, esse tal que mostra um interesse doentio por controvérsias e
contendas acerca de palavras, que resultam em invejas e brigas, difamações e
suspeitas malignas...” (1Tm 6.4) e ainda: “evite se envolver em discussões acerca de
palavras; isso não traz proveito, e serve apenas para perverter os ouvintes.”
(2Tm
2.14). Evidentemente que estes textos não autorizam a Igreja e o crente
a abrirem mão da defesa de sua fé. Mas, com discernimento, saberemos a hora e
como defender a honra de Cristo e do Evangelho, e esse momento requererá, além
do devido preparo intelectual, muito mais de unção, graça e demonstração de
poder espiritual. 3º) Uma última
consideração: “O mundo nos odeia” (Jo 15.1 ss), porque não lhe pertencemos
e porque nossa mensagem, bem como a pureza de nossa vida o incomoda (pelo menos
deveria ser assim). Este ódio do mundo revela a sua desesperada necessidade de
nossa presença e de nossa palavra. Essencialmente diferentes de tudo o que ele
conhece. À nossa aproximação ele tem reações agressivas que só revelam seu
péssimo estado espiritual. E isto deve constranger-nos à perseverança de irmos
ao seu encontro, ainda que seja, como num martírio moral, sujeitos às
provocações, na simplicidade das crianças e adolescentes entregando uma
mensagem que há de alcançar muitos para Cristo!
Reverendo Luiz Fernando
Pastor da IPCI
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