A Semana da Paixão: Cristo nossa Páscoa foi Imolado
“É ele que, nos dias de sua vida terrestre, apresentou pedidos e súplicas, com veemente clamor e lágrimas, àquele que o podia salvar da morte; e foi atendido por causa de sua submissão.”
(Hb 5. 7).
Grande parte da Igreja Cristã em todo o mundo inicia hoje na liturgia e na piedade, a Semana da Paixão de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Católicos Romanos, Cristãos Ortodoxos e Orientais, Anglicanos, Luteranos, alguns Reformados e também o Supremo Concílio da IPB, em sua última reunião ordinária reafirmou a nossa condição de uma igreja litúrgica recomendando assim a celebração bíblica e reverente dos eventos que marcam a história da salvação. Evidentemente, que esses dias não se diferem dos outros por serem mais especiais ou mais santos. Não. O tempo e a história pertencem a Deus, bem como tudo o que a terra contém. Mas, como seres históricos e psíquicos, precisamos organizar a vida e os eventos dela para não nos perdermos nos emaranhados dos acontecimentos e passar por esta existência sem perceber a beleza e o verdadeiro significado das coisas. Sem celebração as etapas de nossa vida perdem muito do seu valor e nós mesmos nos vemos sem identidade, sem saber quem de fato somos e porque existimos. O mesmo se aplica à fé, sem a vivência e a celebração dos momentos mais fortes e significativos da Igreja e dos eventos salvíficos narrados e testemunhados pelas Escrituras, o cristianismo pode se esvaziar numa filosofia religiosa e existencialista. A semana da Paixão tem um caráter pedagógico e didático, pois através dela conseguimos facilmente enxergar a unidade dos dois testamentos, a pedagogia progressiva da revelação divina, a educação na fé de um povo, a constituição da Igreja, o cumprimento das promessas de Deus e o desenrolar perfeito do plano da redenção. As celebrações da Semana da Paixão ajudam-nos a ler as Escrituras de maneira totalizante, integral e sobretudo cristológica, isto é, encontrando Cristo em cada uma de suas passagens. Infelizmente o ambiente iconoclástico, fundamentalista, reacionário e muitas vezes ignorante da Igreja Evangélica Brasileira ou resume a semana da Paixão no sermão das sete palavras, ou utiliza dos exageros da piedade popular dos católicos e suas superstições para embasarem seus discursos contra a celebração da mais importante festa do calendário cristão, ou simplesmente ignoram o fato de que a memória destes dias são um preceito perpétuo e de que o próprio Senhor Jesus desejou ardentemente comer a páscoa com os seus discípulos. Historicamente encontramos a celebração da Semana da Paixão já no século II. Os pais da Igreja e o relato da “Peregrinação de Etéria (Egéria)”, uma piedosa cristã em peregrinação aos lugares santos, descrevem com riqueza de detalhes as várias manifestações na liturgia e na piedade dos antigos cristãos. Controvérsias litúrgicas e de costumes eclesiásticos entre os Cristãos de várias etnias na cidade de Roma no início do terceiro século, testemunham a consolidada vivência destes dias pela segunda e terceira gerações dos discípulos de Cristo. Isto sem contar os inúmeros sermões por ocasião da festa de Inácio, Orígenes, Irineu, Melitão, Hilário, Clemente, Basílio, Gregório de Nissa, Cipriano, Tertuliano, Ambrósio e Agostinho. Estes gigantes da era de ouro dos Pais da Igreja são testemunhas oculares em seu tempo e em suas igrejas da vitalidade e da grande utilidade pastoral destas ações litúrgicas da semana das dores do Messias sofredor. Devemos nos perguntar então, qual a validade e de que maneira a IPCI pode e deve viver esta semana? A primeira coisa a saber é que devemos testemunhar ao mundo, cada vez mais secularizado e cada vez mais hostil ao cristianismo, as razões de nossa esperança, o exato conteúdo de nossa fé. Além, de nós mesmos nos beneficiarmos do conteúdo Bíblico para solidificar ainda mais as nossas convicções cristãs, a Semana da Paixão deve ser também uma oportunidade maravilhosa para proclamar o Cristo Crucificado e mais ainda, o que Ressuscitou como o único caminho para a Salvação. A segunda coisa é a maneira como devemos vivenciar estes dias: Com piedade, com apego às Escrituras e investigando-a, com presença alegre e pontual, valorizando ao máximo cada celebração. Convidando um amigo ou parente para os dias prescritos e sobretudo com gratidão a Deus pelo nosso amado Jesus que tudo suportou em nosso favor e em nosso lugar por amor de nós.
Reverendo Luiz Fernando
Seu irmão e pastor
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