Todos os Santos
“Mas agora que
vocês foram libertados do pecado e se tornaram escravos de Deus, o fruto que
colhem leva à santidade, e o seu fim é a vida eterna” (Rm 6.22).
No dia primeiro de novembro as Igrejas Católica,
Anglicana e Luterana celebram a festa de todos os santos. Entretanto, as
ênfases são muito diferentes no propósito dessa celebração. Os
Anglicanos e os Luteranos fazem memória da vida e dos feitos dos santos de
maneira didática. Apresentam os santos como simples modelos de fidelidade a
Cristo e reafirmam a concepção de que a santidade é possível em todo e qualquer
estado de vida. Ensinam a partir das vidas humanas imperfeitas dos
santos, que sob os auspícios da graça, a santidade é possível a qualquer homem
e mulher. Os católicos além destes dois aspectos, ainda veneram os santos, lhes
oferecem orações, fazem a eles pedidos de intercessão, socorro em suas
necessidades e se confiam à sua proteção. Isto é impensável para Anglicanos e
Luteranos, isso é impossível aos evangélicos em geral e aos presbiterianos em
especial. Toda a nossa adoração, a nossa veneração, as nossas orações são
oferecidas exclusivamente a Deus por meio de Cristo. São os méritos de Cristo a
causa suficiente e eficiente de nossa salvação, santificação, proteção e
bem-estar geral. Escrevo esta pastoral porque no Brasil a Conferência
Episcopal (CNBB), transferiu esta festa para o domingo mais próximo do dia 1º
(no caso hoje), para que seus fiéis pudessem participar em maior número e com
maior proveito de suas celebrações. Não é porque essa solenidade nos seja
desconhecida e até estranha como protestantes que não mereça a nossa atenção e
uma reflexão apropriada. Na verdade, devemos refletir sobre a nossa mais
sublime vocação como povo de Deus, a santidade. Santidade não é uma opção no
cardápio da fé. Antes, é uma ordenança dada por Deus: “Sede santos porque eu o vosso Deus sou santo” (Lv 20.7). Desde o
Antigo Testamento tudo o que diz respeito a Deus é santo. O monte Sião é santo,
o sumo sacerdote é santo, Jerusalém é santa, as alfaias (roupas para o culto e
ornamentação do templo), os
utensílios para o sacrifício, a Arca da Aliança, enfim, tudo o que pertence a
Deus é santificado. A primeira noção então de santo é o de ser separado para
ser posse exclusiva de Deus e estar a seu serviço. Uma vez que fomos alcançados
pela graça de Cristo, regenerados, o Senhor produziu fé salvadora em nosso
coração, fez-nos participar da justiça de Cristo e habilitou-nos para a
santificação com os auxílios necessários e indispensáveis. Agora, como filhos adotivos nossa
razão de ser e de existir ganha nova dimensão e natureza. Fomos separados do
mundo, moralmente separados e purificados, para pertencer a Deus e viver para a
sua glória desde agora e para sempre. A outra noção de santo é aquela
que indica pureza, ausência de pecados, de maldade, inocência e amor pela
justiça e a verdade. Nossa pertença a Cristo e a presença do Espírito Santo em
nós, com os demais auxílios da graça nos fazem produzir e crescer em
santificação, a começar pela produção do fruto do Espírito: “Mas o fruto do Espírito é amor, alegria,
paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade” (Gl 5.22). Junto a esse
fruto passamos a desenvolver dons espirituais para o serviço, bem-estar de
nossos irmãos e a glória de Deus: “Se
alguém fala, faça-o como quem transmite a palavra de Deus. Se alguém serve,
faça-o com a força que Deus provê, de forma que em todas as coisas Deus seja
glorificado mediante Jesus Cristo, a quem sejam a glória e o poder para todo o
sempre. Amém” (1 Pe 4.11). A radicalidade do amor também é uma nota muito
característica dos santos: “Ainda que eu
fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o sino
que ressoa ou como o prato que retine. Ainda que eu tenha o dom de profecia e
saiba todos os mistérios e todo o conhecimento, e tenha uma fé capaz de mover
montanhas, mas não tiver amor, nada serei. Ainda que eu dê aos pobres tudo o
que possuo e entregue o meu corpo para ser queimado, mas não tiver amor, nada
disso me valerá. O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se
vangloria, não se orgulha. Não maltrata, não procura seus interesses, não se
ira facilmente, não guarda rancor. O amor não se alegra com a injustiça, mas se
alegra com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor
nunca perece; mas as profecias desaparecerão, as línguas cessarão, o
conhecimento passará” (1 Co 13.1-8). Essas são características inerentes à
vida e ao caráter de um homem salvo em Cristo. Com maior ou menor intensidade,
essas manifestações deverão ser encontradas. Santidade aqui nessa vida, não
implica em perfeição absoluta. Infelizmente a presença e a influência do
pecado ainda estarão presentes enquanto vivermos, todavia, já não terão domínio
sobre os santos e esses não sentirão prazer ou conforto no pecado.
Todos os que estão em Cristo são verdadeiramente santos: “Se, porém, andamos na luz, como ele está na luz, temos comunhão uns com
os outros, e o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado” (1
Jo 1.7).
Reverendo Luiz Fernando
é ministro do Evangelho na Igreja Presbiteriana
Central de Itapira
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