Significado de Crise
“Mas o que é espiritual discerne bem tudo” (1 Co 2.15 a).
Crise é sem
sombras de dúvidas a palavra do momento. Está presente em qualquer conversa em
qualquer nível de qualquer assunto. O mundo está em crise. O Brasil vive uma
crise sem precedentes na política, na economia, no mercado. O futebol está em
crise, um amigo próximo está em crise no seu casamento e por aí vai. Os
dicionários, com pouca variação, costumam dar os seguintes significados à
palavra: “s.f. Mudança brusca que se
produz no estado de um doente e que se deve à luta entre o agente agressor
infeccioso e as forças de defesa do organismo. Período de manifestação aguda de
uma afecção: crise de apendicite. Manifestação violenta, repentina e breve de
um sentimento, entusiasmo ou afeto; acesso: crise de gargalhadas; crise de
arrependimento. [Figurado] Momento perigoso ou difícil de uma evolução ou de um
processo; período de desordem acompanhado de busca penosa de uma solução: a
adolescência é uma crise necessária. [Figurado] Conflito, tensão: crise
familiar. [Figurado] Ausência, carência, falta, penúria, deficiência: crise de
mão-de-obra. Decadência; queda; enfraquecimento: crise de moralidade. Crise
econômica, ruptura periódica do equilíbrio entre produção e consumo, que traz
como consequências desemprego generalizado, falências, alterações dos preços e
depreciação dos valores circulantes. Crise ministerial, período intermediário
entre a dissolução de um governo e a formação de outro em regimes parlamentares.”
Contudo, como cristãos, à luz do Evangelho, também podemos chegar a alguma
consideração sobre o tema da crise. A crise é um momento de inflexão da
história, quer pessoal quer comunitária. A crise é aquele ponto fora da curva
que nos leva em turbilhão ao encontro da
realidade. A crise exige despertamento, reação, resposta. Crise para o cristão
é sempre uma oportunidade de ruptura com um estado de coisas estagnadas e mal
resolvidas. Os mais gloriosos momentos da história da Salvação conheceram seu
clímax nos auges das crises que enfrentaram. A cruz, por exemplo, é a crise de
todas as crises. Na cruz o drama mais profundo do homem é enfrentado. Mas, a
cruz também, de certa maneira, e escrevo com toda a reverência, é também um
drama divino. A crise humana é a realidade do pecado, da dívida impagável
contraída em Adão. A crise divina é mais profunda, inclusive. Pois, se Deus
perdoa toda a humanidade caída e estende a sua misericórdia indistintamente
sobre todos os homens, Ele agiria de maneira inconsistente e incoerente com a
sua justiça, retidão e santidade. De certa maneira seria conivente com o
pecado. De outro lado, se a ninguém perdoa, se a todos encaminha para o inferno
sem misericórdia, e com toda a justiça, diga-se de passagem, pois como Deus
livre e soberano que é não deve coisa alguma a nenhuma de suas criaturas. Se a
todos, sem exceção pune e condena, lançaria uma sombra sobre a sua natureza
amorosa, misericordiosa e excelsa que o torna tão diferente de tudo e de todos
em sua natureza. No auge da crise a cruz é a solução dada por Deus ao drama
humano e ao seu próprio drama divino. Na cruz, o pecado é perdoado, a dívida é
saldada e o homem se livra de ver executado contra si um veredicto
condenatório. Na cruz, a ira e Deus é satisfeita, sua justiça é vindicada e
todo o seu amor e sua misericórdia são perfeita e absolutamente manifestados.
Então, desde o calvário a igreja aprende e nela os cristãos são ensinados que
na crise está escondida a grande oportunidade se ir além do que se tem e do que
se é. A crise é um lugar de revelação do que está no coração e do que é formado
o caráter de um homem. A crise revela o cristão verdadeiro, o amigo leal, o bom
companheiro, o homem prudente, e também os audaciosos e corajosos que não se
deixam paralisar e ainda enxergam uma oportunidade para avançar. Talvez, à luz
dessas minhas considerações, sem ignorar de fato as muitas crises instaladas ao
nosso redor e algumas dentro de nós, quem sabe pudéssemos substituir a palavra
crise por oportunidade, por salto qualitativo ou ocasião para experimentar
novas vitórias. Lembrar que a nossa maior vitória veio de uma crise de
proporções cósmicas travada na cruz enche-nos de grande segurança de não
sucumbir a uma crise dessas, se comparada, quase insignificante.
Reverendo Luiz Fernando
Ministro Presbiteriano em Itapira
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