Apascentem as minhas ovelhas
“Dar-vos-ei pastores segundo o meu coração” (Jr 3.15).
As Escrituras apresentam vez por outra cenas
dramáticas de juízo divino quando maus pastores ignoram, maltratam, fazem
sofrer e matam as ovelhas do Senhor. São textos vívidos que levam os pastores a
temerem por sua própria vida uma vez que
o próprio Deus sente-se traído, ofendido e escarnecido quando aqueles que ele
chamou para o trato do seu rebanho se tornam negligentes, brutos,
desafeiçoados, gananciosos, exploradores do rebanho por Ele amado. Você
pode encontrar estes textos em livros como Jeremias 23 e Ezequiel 34, por
exemplo. Podemos tomar como parâmetro para o oficialato dos presbíteros o que
Deus espera daqueles que devem liderar o seu povo e governa-lo em nome e na
autoridade do Senhor. Antes de qualquer coisa devemos entender que a função de
presbítero deverá ser exercida por um homem que goste de pessoas, de construir
relacionamentos afáveis e saudáveis. Um
presbítero que não goste de se “misturar” às ovelhas, mas que pensa fazer parte
de uma elite de crentes e que em nada é acessível não poderá cuidar a contento
do rebanho. Seu distanciamento fará com que nunca chegue a conhecer
pessoalmente e individualmente as ovelhas. Não diferenciará o balido de uma e
outra, nem tão pouco conseguirá diferir um grunhido de dor e lamento de um
berro de alegria. E o pior, as ovelhas por sua vez nunca se sentirão seguras ao
ouvirem a sua voz por não terem familiaridade, nunca saberão ao certo quando é
o pastor amado ou o mercenário ou o roubador que a quer atrair. Um oficial
presbítero capaz de transmitir segurança e paz à igreja além de gostar de
gente, deve ser um homem paciente, longânimo e desprovido de juízo fácil e
temerário. Deverá estar disposto á caminhar, em amor,
sempre uma milha a mais, deve procurar sempre o caminho suasório, o
convencimento por meio de amoráveis exortações e nunca cansar e estressar
desnecessariamente a ovelha e todo o rebanho com regras e preceitos legalistas. Deverá orar e exortar as ovelhas para que
busquem a perfeição do amor evitando a todo custo um perfeccionismo doentio,
limitador e estéril. O presbítero necessário à Igreja é aquele que não se
esquece de que Ele também é ovelha do Grande e Verdadeiro Pastor Jesus. Que
ele, presbítero, não é dono e senhor das ovelhas, mas alguém que necessita de
iguais cuidados, de igual longanimidade, de igual incentivo ao amor. Aqui as
palavras do grande Agostinho encontram eco: “Por vós eu sou presbítero, convosco, porém eu sou cristão”. Isto impede o oficial de fazer-se insensível
e alheio às dificuldades de seus irmãos impedindo que ele se torne seu algoz.
Outra faceta indispensável ao exercício do presbiterado é que o oficial deverá
estar pronto para usar também de medidas mais duras, ásperas e doloridas para
chamar o irmão ao bom senso quando este se envereda por caminhos tortuosos.
Deverá usar o ponteiro do cajado para estocar a ovelha quando esta se mostrar
sonolenta, preguiçosa, letárgica e morosa no progresso da vida espiritual. Deverá estar capacitado inclusive para usar
o remédio amargo da disciplina e mesmo o ferro da amputação, isto é, da
excomunhão, quando esgotados todos os meios suasórios, quando todo o processo
tiver se mostrado ineficaz devido à contumácia e dureza de coração da ovelha,
afim de que a enfermidade de uma não venha a contaminar todo o rebanho.
Aqui, talvez mais que em outras situações, o presbítero deverá agir com
caridade pastoral, maturidade psíquica e espiritual, distanciamento emocional
saudável, sem qualquer espírito de revanchismo, pensando exclusivamente na
glória de Deus e no bem do faltoso. Por fim, o pastor das ovelhas que Deus
procura é aquele que está vigilante, que durante o seu turno e a vigília da
noite escura, não dorme e não cochila. Ao menor sinal de que o lobo se aproxima
não teme pela própria vida, mas se interpõe entre ele e as ovelhas. Não procura
amansar nem domesticar a fera e nem simplesmente espantá-la. Com lobo não se
brinca, mata-se! São muitas as matilhas que rondam o rebanho, mundanismo,
secularismo, sincretismo, relativismo, “o
politicamente correto”, o legal, mas imoral, o “porque todo mundo faz...”, os falsos mestres e suas falsas
doutrinas, seitas, heresias e etc. O presbítero deverá vigiar contra todos
estes predadores sorrateiros, porém fatais. E, no meio disso tudo ainda deve
atentar para a própria salvação, sendo diligente no ensino, perseverante na
oração e firme na tribulação. E aí? Vai encarar? Louvado seja Deus porque este
incomparável tesouro (poder) vem dele e não de nós... (2 Co 4.7).
Rev. Luiz Fernando Dos Santos -
É Ministro da Igreja Presbiteriana do Brasil
em Itapira
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