Lex Orandi – Parte II
“Jesus contou aos discípulos uma
parábola, para mostrar-lhes a necessidade de orar sempre, sem nunca desistir” (Lc 18.1 Trad. CNBB).
O tema da oração ocupou um lugar de grande destaque
nas preocupações teológicas e pastorais dos Reformadores e dos Puritanos.
Calvino dá o seguinte título ao Capítulo XX de suas Institutas: ‘Da oração, que
é o principal exercício da fé, por meio da qual recebemos a cada dia os benefícios
de Deus’. Neste mesmo capítulo encontramos o seguinte: “Assim, pelo benefício da oração, conseguimos penetrar até aquelas
riquezas que Deus celestial tem depositadas em si. Pois a oração é uma espécie
de comunicação entre Deus e os homens, mediante a qual estes entram no
santuário celestial, recordam ao Senhor suas promessas e instam-lhe a mostrar
na realidade, quando a necessidade o requer, que aquilo em que acreditaram,
simplesmente em virtude de sua Palavra, não era vão. Vemos, pois que Deus não nos propõe coisa alguma a esperar
dele sem que, ao mesmo tempo, mande que peçamos pela oração; tão certo é o que
dissemos, que com a oração encontramos e desenterramos os tesouros, que se
mostram e descobrem a nossa fé pelo Evangelho” (Instituições da Religião
Cristã, cap XX, 2). João Calvino nesta sua ‘Obra Magna’, deseja inspirar os
cristãos e mesma insta com eles para que busquem a Deus em oração, pois de
outra maneira jamais alcançarão, nem posse tomarão das riquezas espirituais e
das bênçãos temporais contidas no Evangelho. É como se nos dissesse que nada
alcançaremos de Deus sem a oração, nem nada d’Ele devemos esperar se não
orarmos. Ao mesmo tempo em que nos enche de santas expectativas ao afirmar que
aquilo que foi prometido será inexoravelmente entregue por Deus aos que orarem
pela fé. A geração que seguiu aos Reformadores conhecida como os
Puritanos também dava grande ênfase à oração. Os Puritanos eram teólogos e
pastores que valorizavam grandemente as experiências espirituais da Palavra de
Deus. Experiências estas vividas sempre dentro do
contexto da oração, da contemplação, do colóquio espiritual na intimidade do
Senhor. John Bunnyan, John Owen, Thomas Goodywin, Richard Baxter, e mesmo os
teólogos puritanos mais sistemáticos como Willian Perkins e W. à Brakel
dedicaram boa parte de sua pena ao tratamento dos benefícios e da necessidade
da oração. Os Puritanos criam que sem a oração nenhuma verdade do Evangelho ou
nenhuma promessa das Escrituras jamais seriam reais para o cristão. E mais, que
sem a oração nenhum progresso ou vitória sobre os pecados, as tentações e a
hostilidade do mundo seria possível. Na verdade, os Puritanos que
viveram sob o regime ditatorial de reis e rainhas despóticos, e se viram
exilados, expulsos de seus púlpitos, encarcerados injustamente e não raras
vezes sentenciados à morte, não poderiam avançar como o fizeram em tantas áreas
da vida e nem nos deixar seu precioso legado se não fossem homens dedicados à
oração. Aqui os Puritanos tiveram uma preocupação pastoral especial, pois
muitos cristãos sentiam os ataques de Satanás fazendo-os crer ou que eles não
eram dignos de serem atendidos por Deus devido aos seus pecados ou que suas
orações nunca seriam respondidas ou se o fossem seria tarde demais. O inimigo
servia-se das provações pelas quais passavam estes homens para instigar-lhes o
desespero e a apatia espiritual. Assim, os Puritanos escreveram tratados e
fizeram longas pregações para incutir nos cristãos a confiança, o zelo e a
alegria por uma vida de oração que deveria ser cultivada nos lares em
devocionais diárias, em particular e na Igreja em reuniões especialmente
dedicadas a oração. Foram mestres na arte de orar e de ensinar a fazê-lo. O
maior resultado teológico-doutrinal desta época é sem dúvida a Confissão de Fé
de Westminster e seus catecismos produzidos na célebre Abadia Inglesa de mesmo
nome entre os anos de 1643-1649. No Catecismo Maior, um desses documentos
confessionais que adotamos na Igreja Presbiteriana do Brasil, em sua pergunta
178 assim define a oração: “A oração é o
oferecimento dos nossos desejos a Deus, em nome de Cristo e com o auxílio do
Espírito Santo, com a confissão de nossos pecados e um grato reconhecimento das
suas misericórdias”. Esta forma sintética descreve exatamente a natureza da
oração cristã: Aproximamo-nos de Deus para revelar-lhe nossos sentimentos e
necessidades; O fazemos confiados na autoridade e nos méritos de Cristo; Nunca
estamos sós, o Espírito nos auxilia o que nos convém pedir; podemos e devemos
confessar nossos pecados para que sejamos limpos e restaurados, mesmo a parte
das coisas que pedimos, pois esta é nossa maior e mais real necessidade; e por
último demonstramos gratidão, pois o fato de podermos com liberdade nos dirigir
a Deus já é prova suficiente das suas misericórdias. Sem uma vida de oração a
fé não se sustenta, a esperança não nos anima e o amor não nos transforma.
Façamos tudo em oração, nada realizemos sem antes orar muito.
Rev. Luiz Fernando
É
Ministro da Igreja Presbiteriana do Brasil em Itapira
Nenhum comentário:
Postar um comentário