Tolerância e Exclusividade de Cristo. Seria possível?
“Quem tem o Filho, tem a Vida!” (1Jo
5.12).
Vivemos em plena ditadura, a mais cruel das
ditaduras e ninguém se dá conta ou reclama. Estamos sob o regime ditatorial do
relativismo, do pluralismo radical, daquilo que os eruditos chamam de
pluralismo filosófico ou hermenêutico.
Este é o mais perigoso e sério desenvolvimento da pós-modernidade, é a
postura de que qualquer noção de uma declaração ideológica ou religiosa em
particular é intrinsecamente superior a outra é necessariamente errada. O único credo absoluto é o credo do
pluralismo! Nenhuma religião tem o direito de se destacar a si mesma
correta ou verdadeira. Mas, nenhuma outra instituição tem o direito de defender
verdades universais e absolutas. Não há mais que se falar em ética, mas em
muitas éticas, pois há muitas verdades. Tudo depende da percepção, da
conveniência e do subjetivo. Esta hermenêutica radical é um processo de
desconstrução dos princípios que regeram e fundaram a cultura ocidental sobre
os valores judaico-cristãos e até aqui, o que apresentaram no lugar não passou
de falácias e o homem não se viu numa condição mais livre, mais feliz ou
superior. Antes pelo contrário, o que assistimos dia a dia é uma cultura do
efêmero, dos excessos, da ostentação, do consumismo. Encontramos todos os dias
personalidades desintegradas, pessoas sem identidade correndo atrás do sentido
da vida fazendo toda sorte de testagens. O ícone pop desta cultura e
quem sabe seu melhor intérprete talvez tenha sido mesmo o Raul Seixas e a sua
sociedade alternativa com sua metamorfose ambulante. Cada um deve fazer o que
“der da telha”, cada um deve viver em contínua transformação e mudança de
opinião sem jamais possuir nenhum princípio ou balizamento moral. A ditadura do
relativismo, como em toda ditadura, tem lá os seus mecanismos de coerção. O
primeiro deles é consumismo irresponsável e doentio. O Consumismo traz a ideia de que
não possuir e não consumir tal bem, Marca ou modelo ‘é não-ser’, não existir
socialmente, não poder
interagir culturalmente. O consumismo, através do marketing agressivo, gera enormes falsas
necessidades apelando para as fraquezas e vulnerabilidades mais expostas das
pessoas, de modo que elas desenvolvem verdadeiro pânico de se virem alienadas e
não aceitas em seu círculo social. E, para manter cativos os homens gera-se
esta cultura vertiginosa de um novo lançamento e uma nova moda (sempre
descartável e superficial) a cada semana. O segundo mecanismo desta ditadura é
a indústria do entretenimento pelo entretenimento. As artes, as produções
culturais, a TV, o Cinema, a indústria fonográfica não possuem quase ou nenhum
interesse em comunicar qualquer sentido à realidade. Nem mesmo se prestam para
fazer uma leitura crítica do homem e do mundo. O que desejam é explorar o
universo sensorial do homem comunicando algum prazer, na maioria das vezes,
explorando a sensualidade através de paixões desgovernadas, bizarras e
doentias. Há toda uma indústria que banaliza a violência, a morte e
desmistifica a sacralidade da vida em todos os seus estágios, coisificando
assim a existência humana e embrutecendo toda uma geração. Mas, este
tipo de entretenimento alienante também aportou nas Igrejas Evangélicas. Não poucos
púlpitos e programas de cultos também exploram o bizarro e o dantesco
manipulando emoções e carências sem nenhum pudor e sem nenhum compromisso
ético. Muito da subcultura cristã gospel não produz coisa alguma além de música
comercial com letras e melodias que por pouco não são confundidas com mantras.
Neste contexto secularizado, de múltiplas escolhas, de relativismo levado às
últimas consequências como viver a nossa fé cristã? Algumas pistas: 1.
Jamais ceder à tentação de uma igreja “Avestruz”. Não podemos, em face de
tantos e complexos desafios da cultura contemporânea enfiar a cabeça em um
buraco e fingir que não temos nada a oferecer, nada a compartilhar e assumir um
papel irrelevante; 2. Não podemos nos deixar capitular à mentalidade da época e assim
assumir nosso lugar neste mosaico, neste caldeirão de “muitas verdades” e nos
contentar com um discreto papel coadjuvante; 3. Não podemos ser
intolerantes e segregacionistas. Não podemos assumir um papel arrogante e
sairmos por aí simplesmente acusando, difamando e destruindo reputações. Longe
de nós tais coisas; 4. Precisamos sim em amor, com genuíno e desinteressado amor,
com lógica racional, apego à verdade e a Justiça, apresentar a exclusividade de
Cristo e sua Superioridade sobre as pessoas em primeiro lugar e só depois às
suas ideias; 5. Precisamos, na dependência do Espírito Santo, convencer de
que não somos os donos da verdade, absolutamente. Mas, servos dela. O
caos do relativismo é a grande chance dos cristãos e da Igreja a partir de sua
vida integral e íntegra, apresentar um sistema e um estilo de vida que responda
a todas as inquietações do homem e da sociedade. Neste mundo plural a
singularidade de Cristo faz todo o sentido!
Rev. Luiz Fernando - É Ministro da
Igreja Presbiteriana do Brasil em Itapira
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