Grata Memória
“Deem Graças a
Deus em todas as circunstâncias” (1Ts 5. 18).
Há um hino em nosso hinário que
gosto de cantá-lo repetindo vagarosamente cada palavra, como que saboreando o
sentido profundo e maravilhoso que cada uma possui. O hino em questão é o que
dá o título a esta pastoral “Grata Memória”. É o hino 64 do Hinário Novo
Cântico em uso na Igreja Presbiteriana no Brasil. A primeira e a quarta
estrofes me tocam de maneira especial: “Nunca
meus lábios cessarão ó Cristo, de bendizer-te, de cantar-te glória; Pois guardo
na alma teu amor imenso: Grata memória!” - e ainda: “Aos fortes braços eu corri confiante, meigo e bondoso, não me
recusaste; e em te imenso, suave amor, tão puro, me agasalhaste!” Não
saberia exatamente o porquê a melodia tocar tanto assim o meu coração, mas à
meditação demorada em cada expressão de cada estrofe, sempre me levam a
contemplar as maravilhas do amor de Deus. As grandes e maravilhosas
demonstrações deste amor para comigo nas mais variadas circunstâncias da vida.
De tanto cantar e meditar este hino aprendi uma lição imprescindível para a
minha vida espiritual que creio, deve ser importante para você também, uma vez
que possui fundamento bíblico. O cristão deve desenvolver a virtude de
colecionar e guardar na memória do coração as muitas e variadas bênçãos de Deus
em sua vida. Deverá guardá-las na memória afetiva e devota do coração.
Deverá abastecer a sua memória e treinar a sua mente em reconhecer e acessar
sempre que possível a recordação destas bênçãos. São a mente e o coração
abastecidos de gratidão, de memórias de gratidão, que nos animam e nos permitem
a iniciar um novo dia, recapitular a nossa
história, voltar
ao ponto de onde paramos, quase desistindo, para concluir os ciclos e as muitas
fases da vida. Sem o combustível
da lembrança constante dos feitos de Deus as lutas e as dificuldades do
presente parecem agigantar-se diante de nós. Revelam-se sempre mais críticas do
que realmente são e podem provocar uma paralisia em nossa vida. Sem trazer à
memória as vitórias de Cristo em nossa vida não só o presente parece caótico,
perdido num labirinto, sem soluções e desesperador, mas, também o futuro será
sempre sombrio, amedrontador! Nas Escrituras Sagradas encontramos o livro das
Lamentações, livro escrito pelo profeta Jeremias, um homem acometido por muitas
perseguições, situações de vexação pública, acumulou um sem número de grandes
decepções ao longo de sua vida e ministério. Entretanto, apesar de tudo, ele
acumulou muito mais em sua memória as consolações, os livramentos, as
providências, as demonstrações de cuidado e ternura, as declarações de aliança
e de compromisso fiel por parte de Deus em sua história pessoal, em seu
ministério e para com Israel. Um homem que conheceu a dor, ainda sim encontrou
ocasião e motivo para escrever o seguinte: “Todavia,
lembro-me também do que pode me dar esperança: Graças ao grande amor do Senhor
é que não somos consumidos, pois as suas misericórdias são inesgotáveis.
Renovam-se a cada manhã; grande é a sua fidelidade. Digo a mim mesmo: a minha
porção é o Senhor, portanto, nele porei a minha esperança” (Lm 3.
21-24). Em tempos difíceis, de grande
aflição e de tribulações interiores e exteriores, não há melhor remédio do que
pregar a Palavra à nossa própria alma, como fez Jeremias. E, como ele fez?
Trazendo à memória os feitos amorosos de Deus colecionados com esmero durante a
vida, que em muito suplantavam as doridas experiências e as muitas perdas ao
longo de sua história. Temos sempre estas duas opções: Colecionar tristezas,
azedumes, derrotas e semear em nós mesmos a frustração até chegarmos ao
desespero, o cinismo e o niilismo. Não estou dizendo com isso que devamos
ignorar a realidade, fingir que os dias maus não existem, não. O cristianismo
vive da realidade. Então o que fazer para não acumular estes lixos existenciais
que só amarguram a nossa alma? Aqui as Escrituras nos ajudam mais uma vez: “Lancem sobre ele toda a sua ansiedade,
porque ele tem cuidado de vocês” (1 Pe 5.7). A outra opção é reter na alma ‘grata memória’, a experiência dos ‘fortes braços e do amor que nos agasalha’.
É ter sempre na mente e no coração vívida impressão de um Deus sempre presente,
sempre pronto, todo atencioso e cuidador dos seus. Colecione gratidão e não te
faltará esperança.
Por um viver cheio de
gratidão e esperança,
Reverendo Luiz Fernando dos Santos
Nenhum comentário:
Postar um comentário