A Urgência do Discipulado – 2ª Parte
“Todo atleta em tudo se domina; aqueles, para alcançar uma cora corruptível; nós porém, a incorruptível. Assim corro também eu, não sem meta; assim luto, não como desferindo golpes no ar.” (1 Co 9. 25,26 ARA).
A Igreja da idade média era a Igreja do mistério, do arcano, do misticismo. Os fiéis participavam das celebrações litúrgicas sem muito entendimento. Os ritos cada vez mais complexos, com gestuais ininteligíveis, orações secretas, longas ladainhas e o latim, uma língua difícil e já a esta altura desconhecida do povo, eram barreiras intransponíveis. Não obstante os esforços evangelísticos de Francisco de Assis, Domingo de Gusmão, Francisco Xavier, a sacramentalização se sobrepunha à catequização e ao treinamento dos cristãos. O século XVI é o auge desta igreja maquiada de religião sem vida cristã evangélica por parte do povo. A santidade havia se tornado uma realidade para homens com um chamado especial á uma vida de virtudes heróicas nos claustros e nos conventos. A santificação havia sido privatizada pelos profissionais da fé. Por sua vez, os nossos pais reformadores juntamente com a tradução e popularização das Escrituras, produziram catecismos e estudos Bíblicos, como é o caso, por exemplo, das Institutas, para treinar os convertidos na vontade de Deus. Quase quinhentos anos nos separam daqueles dias e assim como as Missões, o Discipulado permanece uma tarefa inacabada e urgente. Os nossos “cursinhos” para profissão de fé e batismo se reduzem na maioria das vezes na transmissão de informações e de um conhecimento que pouca ou nenhuma diferença faz à fé e ao caráter do candidato. Precisamos redescobrir a seriedade e a profundidade do Discipulado cristão, como um centro de treinamento vigoroso para a vivência plena e radical da vontade de Deus no mundo e na comunidade de fé. Não se trata de um cursinho para satisfazer a curiosidade ou para prover aquele conhecimento de identificação com a denominação. O Discipulado é um longo caminho de obediência na mesma direção, na extirpação dos vícios, na mudança de hábitos, na aquisição de virtudes, na descoberta e no desenvolvimento dos dons. O discipulado, como treinamento, é a disciplina de aprender a pensar, reagir, sentir e viver como o Cristo. É o devido condicionamento espiritual para se ter uma vida cristã de fato vitoriosa. Vitória sobre a nossa natureza decaída e pecaminosa. Vitória sobre a vileza e a leviandade de nossos corações ainda influenciados e contaminados pela vida velha. Vitória sobre o nosso antigo modo fútil e inútil de pensar e viver. Vitória sobre as inclinações sensuais da carne. O Discipulado deve ser profundo, sistemático, vigoroso, substancioso no aprendizado da vontade de Deus em sua Palavra, a fim de obtermos musculatura espiritual necessária para entrarmos na arena da batalha espiritual e não sucumbirmos nocauteados por Satanás e seus demônios que esmurram o nosso corpo, a nossa consciência e a nossa vontade, fazendo-nos fraquejar e desistir muitas vezes de vôos mais altos em nossa espiritualidade. Sem esta musculatura forte, capaz de reagir como que por condicionamento devido aos muitos exercícios repetitivos, também não seremos páreos para o mundo e as suas seduções. O discipulado cristão reclama disciplina, austeridade, investimento de tempo, investimento de capital emocional e psicológico para caminhar paciente e amorosamente por um longo tempo até que os tempos da infantilidade espiritual cedam espaço para a maturidade na Palavra de Deus. Discipular é cuidar e também desafiar. Cuidar para que o discipulando receba o devido tratamento para as suas feridas e enfermidades contraídas na vida de pecado ou de distanciamento de Deus e que seja desafiado a jamais se acostumar ou contentar em ser carregado no colo, receber alimento líquido ou pastoso, evitando assim uma nutrição mais substanciosa. Sem o discipulado nossas igrejas correm o sério risco de produzir toda uma geração de cristãos imaturos, inseguros, mimados, pirracentos, narcisistas e descomprometidos. Só não tenho certeza se todos estes adjetivos podem sustentar o edifício espiritual da Igreja. Leia Hebreus 5. 11-14 e deixe-se convencer de que discipular é o melhor caminho para a Grande Comissão!
Luiz Fernando,
Pastor da Igreja.
Nenhum comentário:
Postar um comentário